Maioria de acidentados com moto não é motoboy, diz estudo do HC-SP
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Levantamento com 326 casos na capital aponta detalhes de acidentes.
Motociclistas e motoristas 'empatam' como causadores de colisões.
A maior parte dos acidentados com moto usa o veículo por apenas 2 horas por dia, como transporte, geralmente para ir e vir do trabalho, diz estudo do Hospital das Clínicas de São Paulo que traçou um raio X de acidentes com motos na capital paulista.
O levantamento, divulgado em detalhes nesta quinta-feira (15), envolveu 326 vítimas e 310 acidentes, entre fevereiro e maio deste ano, na Zona Oeste de São Paulo, onde fica o HC. Apenas 23% dos acidentados declaram que usam a moto como instrumento de trabalho.
"Não é surpresa", diz a coordenadora do estudo, a fisiatra Júlia Greve. O estudo conclui que, apesar de mais expostos, motofretistas se acidentam menos possivelmente por serem mais experientes. A médica diz ainda que essa resultado mostra que o aumento da exigência de equipamentos de segurança para motoboys tem surtido efeito.
A pesquisa começou no mesmo mês em que passou a valer a exigência de curso de direção defensiva para motoboys e mototaxistas, determinada pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). O estado de São Paulo, porém, ainda começou a multar para quem descumpre a regra, fazendo apenas a chamada fiscalização educativa.
Em São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) oferece o curso gratuitamente. O Detran-SP autoriza autoescolas e postos do Serviço Social do Transporte (Sest) a dar o curso, que é pago. "40 mil motofretistas já passaram pelos cursos dos Detrans", disse o diretor do departamento, Daniel Annemberg, nesta quinta. Segundo ele, a fiscalização com multa deverá ser iniciada ainda neste ano.
O número de motoboys é bem inferior ao da frota de motos na capital paulista. O sindicato da categoria diz que existem cerca de 200 mil motofretistas na cidade; o número de motos, segundo a CET, era de quase 1 milhão em 2012.
A pesquisa do HC-SP traçou um perfil dos acidentados, levantou as principais causas dos acidentes e os tipos de lesões. Veja abaixo as principais conclusões.
A maioria dos acidentados com moto retratados na pesquisa do HC-SP é homem (92%), com 30 anos, em média, e estudou até o ensino médio -- 20% tinham ensino superior. Mais da metade (62%) ganha de 1 até 3 salários mínimos.
Do total, 73% disseram que usam a moto como transporte, dirigindo até 2 horas por dia e 33% se declararam motofretistas, pilotando até 8 horas por dia. Outros 4% não responderam. Mais da metade dos entrevistados disse que já havia sofrido acidente antes.
Mais de 70% dos acidentes estudados envolveram dois ou mais veículos. A pesquisa apontou que motociclistas e motoristas "empataram" na questão de quem teve culpa no acidente. Em ambos os casos, a imprudência foi o fator que pesou.
Dos motociclistas entrevistados, 67% dizem que aprenderam a andar de moto sozinhos. E 23% não tinham habilitação (desses, 75% tinham menos de 32 anos).
O excesso de velocidade foi constatado em 13% dos casos -na maior parte deles, eram as motos que estavam acima do limite. A maior parte das ocorrências foi em ruas e avenidas de velocidade média; 34% foram nas marginais.
Problemas nas vias, como óleo ou areia na pista e má sinalização, levaram a 18% dos acidentes. De todas as ocorrências, 97% aconteceram em pista seca e 67% durante o dia.
Más condições dos veículos responderam por apenas 8% das colisões e quedas. Freios e pneus são os principais "vilões" nesses casos. Segundo o HC-SP, 69% das motos tinham menos de 6 anos de uso.
Mais de 80% dos participantes concordou em passar pelo bafômetro e por testes de laboratório para verificar o consumo de substâncias químicas.
"Ao menos 21,3% usou álcool ou drogas e conduziu a motocicleta", concluiu o estudo. Entre esses, em 14,1% foi constatada a presença de drogas, sendo a cocaína como principal. E 7,1% haviam bebido.
Do total, mais de 90% usavam capacete, mas somente 17,8% usavam jaqueta e botas também. A lei obriga o capacete e vestimenta adequada para conduzir motos, mas até hoje não foram definidos critérios para os itens de vestimenta, por isso eles não são cobrados.
Motofretistas estavam mais equipados que os que usam a moto como transporte. A proteção depende ainda da energia do impacto. Segundo Júlia Greve, as jaquetas protegeram contra lesões mais graves nos membros superiores, mas as botas não influenciaram nas lesões de membros inferiores. "Talvez pela qualidade", diz a médica.
A maioria (80%) dos acidentes envolveu motos de até 250 cilindradas.
Nos acidentes estudados, 2% resultaram em morte de motociclistas. Entre feridos, 48% tiveram lesões graves, sendo 17% em pernas e pés e 12% em braços. Outros 23% tiveram outros tipos de trauma. A maioria teve alta após o pronto-atendimento; 18% tiveram de ser internados.
O estudo do HC-SP recomenda a criação de um banco de dados de acidentes de trânsito nacional, envolvendo as polícias, Detrans e hospitais. Além disso, pede a melhoria no processo de habilitação dos motociclistas, com a inclusão da direção defensiva.
A associação das montadoras de motocicletas (Abraciclo) diz que é favorável a mudanças no processo de habilitação, inclusive a subdivisão da categoria A, de acordo com a cilindrada da moto (A1 para ciclomotores e motos de até 50 cc, A2, para até 350 cc, e A3 para as mais potentes), diz o diretor José Eduardo Gonçalves. O assunto tem sido discutido em câmara temática do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
A coordenadora da pesquisa, Júlia Greve, aponta ainda que é preciso acabar com o "combate hipócrita" da embriaguez de motociclistas e motoristas, com menos leis e mais punição. O inspetor Marcio José Pontes, da Polícia Rodoviária Federal, que participou da apresentação do estudo, concordou. "O trabalho (de fiscalização) está sendo feito, mas as pessoas não estão deixando de dirigir embriagadas."
Daniel Annemberg, diretor do Detran-SP, lembrou que há 6 instâncias para que um condutor que causou um acidente estando embriagado pode recorrer antes de ter a CNH cassada. "O Detran não tem instrumentos legais para cassar a carteira. A legislação dificulta a punição."
Disponivel em 18/01/2017
https://g1.globo.com/carros/noticia/2013/08/maioria-de-acidentados-com-moto-nao-e-motoboy-diz-estudo-do-hc-sp.html